Quando comecei a me interessar por VFX ficava olhando para os vídeos dos grandes estúdios de filmes, como os da Marvel por exemplo, sonhando em trabalhar com cenas iradas.
Durante minha faculdade de Design, comecei a estudar por tutoriais nas minhas horas livres e sendo muito sincera, eu me sentia. Não sabia fazer um “A” sem seguir o passo a passo, mas só em ver o resultado final, ficava muito feliz. Depois de um ano em tutoriais, tentei fazer projetos pessoais e percebi que não conseguia fazer nada, mas durante uma conversa com os meus professores da faculdade, eles me ensinaram a tirar proveito do tutorial.
Fiquei estudando (os tutoriais) por mais algum tempo até conseguir uma oportunidade de estágio, seria como compositora em um dos maiores estúdios do Rio, a Conspiração Filmes.
Confesso que fui para o estágio me “sentindo”, e isso durou até chegar o meu primeiro trabalho: apagar uma logo em um tênis. Eu gelei. Percebi que não sabia fazer. Meu ego, que estava gigante por achar que era única pessoa que gostava de composição, que conhecia o software Nuke, foi por água a baixo.
No tutorial, você não aprende o dia a dia, as técnicas reais de como fazer as coisas. Aprende técnicas isoladas, que servem para coisas muito específicas. Eu sentia que só sabia “apertar botão”, seguir passos marcados. Enfim, o pessoal do estúdio teve muita paciência comigo, ficava sentado perto de mim, explicava tudo e tirava todas as minhas dúvidas. Ao olhar para os trabalhos que eles estavam fazendo, via coisas incríveis, que sonhava em fazer, mas sabia que ainda estava longe de conseguir.
Eu fiquei 8 meses no estúdio, e nos primeiros 5 meses ficava com medo de fazer os trabalhos. Tinha muita sede de fazer as cenas (e ainda tenho) além de que sentia medo de não conseguir entregar tudo corretamente e no tempo exigido. Mas, nos 3 meses finais, fui ficando mais confortável com o meu trabalho, fazia cenas com maior complexidade, ficava com menos vergonha de perguntar e fiquei mais confiante nas minhas habilidades.
Depois da conspira, segui para o Canadá para fazer uma pós em composição na Lost Boys | Escola de efeitos visuais.
Meu Deus, de novo, cheguei chegando. Fazia perguntas, queria sugar tudo, se fosse possível absorver as informações por osmose eu o teria feito. Estava fazendo tutorial em casa e filmando tudo para fazer projetos pessoais.
Quando as aulas realmente começaram, pela segunda vez, fui percebendo que, mesmo tendo passado por um estúdio, continuava sem noção de muita coisa. Eu ainda não tinha entendido por que certas cenas eram feitas de uma forma, ou de outra. Essa foi outra parte do meu aprendizado. O currículo do curso foi construído para passar por todas as fases, você começa no básico, passa pelo intermediário e aí sai fazendo cenas avançadas. Lógico, não? Eu não sabia o básico completamente e queria pular para o avançado. Precisei parar de querer pular de fases, por mim, pulava direto para o avançado. Segurar essa ansiedade não foi fácil.
Durante os 10 meses de curso (em tempo integral) houve momentos em que nem sabia por onde começar alguns trabalhos, cenas que eram extremamente difíceis, outras muito fáceis.
Comecei a sentir uma energia competitiva no ar. Isso não foi bom. Passei por altos e baixos e até pensei em desistir várias vezes, me sentia sobrecarregada. Na maior parte do tempo só conseguia ver o que estava na minha frente, onde estava focada. Eu não conseguia ver o quanto eu já tinha aprendido. Depois dos 10 meses de aula, fui para um estágio. Por 2 meses, estagiei no estúdio CoSA VFX.
No primeiro dia, recebi cenas e pela primeira vez na vida me senti calma. Eu sabia como fazer. Eu podia escolher a técnica que melhor se aplicava, porque conhecia várias técnicas. O mais importante para mim era que eu sabia o porquê da escolha.
Eu aprendi com os Leads, com meus amigos do Lost Boys que trabalham no estúdio, pude abrir scripts de outros artistas e estudar o jeito que eles fizeram suas cenas. Conversei com os artistas sobre como foi a experiência deles em outros estúdios, tendências do mercado e como vamos nos adaptar para trabalhar com projetos em 6 e 8K.
Fui percebendo todos os meus aprendizados acumulados, o que eu tinha aprendido na Conspira, no Lost Boys, começando pelo que eu aprendi na faculdade. Eu olho meus reels de 2014 até agora e vejo não só a diferença de qualidade, mas que hoje eu sei o que estou fazendo.
Hoje, se me derem uma cena que eu tenha dúvidas sobre como fazer, sei que tenho várias pessoas a quem perguntar, seja no próprio estúdio que estiver trabalhando, seja com algum colega. Hoje, eu tenho confiança no meu trabalho, tenho noção que não sei fazer tudo, tenho ainda muita coisa para aprender, mas também sei que é possível pedir ajuda e já conheço várias pessoas experientes no mercado que podem em ajudar e que não há problema em ser ajudada. Estou animada para aprender o máximo com outros artistas. Sei ainda que é preciso fazer o controle de qualidade, estou melhorando nisso.
Para mim, estudar em uma escola de efeitos foi bom, não só para aprender como fazer os efeitos. Mas para descobrir quem eu sou como artista, o que eu quero ser, achar meu potencial. Sei que não fiz nada sozinha, tive amigos que me ouviram quando eu queria chorar, professores que me deram conselhos e familiares que conversaram comigo de madruga quando precisavam dormir. Pessoas do Brasil e do Canadá me ajudaram a ser uma pessoa e uma artista melhor. Eu posso ter gostado de VFX desde criança e ter falado disso o tempo todo, mas eu não consegui ter confiança e descobrir minhas habilidades sozinha. Descobri que prefiro aprender mais com os outros do que ficar enfurnada em casa sozinha, assistindo tutorial, tentando aprender por conta própria e tendo medo que outras pessoas saibam mais do que eu. O aprendizado está na troca de conhecimento, de experiência, pois você cresce como pessoa e como profissional e sua vida fica mais leve e fácil.
Links
Conspiração Filmes (português)
Lost Boys | School of VFX (inglês)
CoSA VFX (inglês)
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